Campo Grande é a nossa cidade. Terra boa e encantadora. Terra das araras, dos diversos pássaros. Terra que se reinventou em uma multiplicidade de pessoas. Povos originários, colonização portuguesa, diáspora africana, migração brasileira, paraguaios, bolivianos, japoneses, armênios, sírio-libaneses, italianos, espanhóis, esse confluir nos proporcionou inúmeras histórias e memórias. O marco inicial da cidade se deu com a travessia do mineiro José Antônio Pereira, que, em 1872, se alojou na Serra do Maracaju, próximo aos córregos Prosa e Segredo, que formam o rio Anhanduí. Uma cidade que nasce a partir de um encontro entre o silêncio e a fala só poderia dar em poesia.

A terra é fertilizada de diversas formas, uma semente para vingar precisa de tempo e cuidado. Uma cidade não se faz em um dia, e também é inesgotável em seus descobrimentos e reinvenções. Assim vamos caminhando. 

O poeta Manoel de Barros nasceu em Cuiabá, mas aos 13 anos veio para Campo Grande, que está imortalizada em seus escritos. Em um dos seus poemas ele escreveu: “Meu quintal é maior que o mundo”. Aqui você vai ler histórias que nos fertilizaram, e o nosso quintal é imenso e fértil porque é gestado com afeto. Assim como as mãos de Tia Eva, que ergueu a mais antiga igreja da nossa cidade, ou como a resistência de nossos povos indígenas, que caminham desde sempre por essas terras boas e suas águas cristalinas. Que possamos continuar a escrever cada vez mais outras histórias, pois um patrimônio só é preservado se ele não for esquecido.

Por isso, precisamos ouvir, narrar, amar e cuidar da nossa cidade de Campo Grande, para semear o futuro, entendendo que a incompletude, como também dizia o poeta, é igualmente a maior riqueza do ser humano. Na incompletude há espaço para o sonho.